Rosa Harumi Uenishi

A Doença Celíaca (DC) é uma afeccção autoimune provocada pela proteína glúten presente nos cereais (trigo, centeio, cevada e aveia) e ocorre em indivíduos geneticamente predispostos. O glúten causa no paciente celíaco danos na mucosa intestinal (atrofia vilositária) e compromete a absorção de nutrientes. 

A DC apresenta várias manifestações clínicas, que podem ser intestinais e/ou extraintestinais. As manifestações intestinais são como por exemplo diarréia, distensão abdominal, dor abdominal, constipação intestinal, gases e outros. Por outro lado, as manifestações extraintestinais podem envolver diferentes sistemas do corpo como por exemplo dermatite herpetiforme, ataxia cerebelar, anemia ferropriva resistente ao tratamento, defeito no desenvolvimento do esmalte dentário, epilepsia de repetição de difícil controle, infertilidade, abortos espontâneos, lentificação no desenvolvimento pôndero-estatural, osteoporose, e outros. 

A DC tem prevalência de aproximadamente 1% na população em geral, mas existem alguns grupos com maior risco de apresentar ou até mesmo desenvolver a doença, tais como: pacientes que tenham outras doenças autoimunes (diabetes mellitus tipo  1, tireoidite autoimune, alopecia areata, hepatite autoimune, síndrome de Sjögren, artrite reumatóide e outros); pacientes portadores de síndromes genéticas (Down, Turner, Williams e outros); pacientes deficientes de Imunoglobulina A. Além desses grupos a prevalência, é aumentada principalmente nos familiares de primeiro grau de celíacos (pais e irmãos) devido compartilhamento genético envolvido. Nesse grupo, o risco de apresentar a doença oscila entre  5% a 20%, mas pode chegar a 75% em gêmeos univitelinos. Sugere-se a realização de exames para a DC nestes grupos de risco, mesmo sendo assintomáticos.

Pães

O diagnóstico da DC depende de realização de exames sorológicos (IgA-Antitransglutaminase, IgA-Antiendomísio, IgA sérica), exame genético (HLA-DQ2 e HLA-DQ8), biópsia intestinal (exceção em casos específicos quando envolve crianças) e apresentação de melhora clínica depois de iniciado o tratamento. Portanto o paciente celíaco é diagnosticado e acompanhado por uma equipe multidisciplinar composta, principalmente, por médicos gastroenterologistas e nutricionistas.

O tratamento efetivo da DC é a retirada completa do glúten da dieta e perdura ao longo da vida.  O tratamento visa a normalização dos níveis de anticorpos séricos específicos da DC, a melhora clínica e a regeneração das vilosidades intestinais. Por isso encontramos nas prateleiras de supermercados produtos com a inscrição na embalagem “Não Contém Glúten” destinados especificamente para pacientes celíacos. Essa inscrição de advertência nos rótulos de alimentos industrializados  está de acordo com a Lei Federal nº8.543/1992 e é uma medida coadjuvante para garantir o seguimento correto do tratamento.

A dieta isenta de glúten parece ser fácil de aderir já que existe um alerta nas embalagens, mas requer apoio efetivo principalmente dos familiares, amigos e profissinais que convivem com o celíaco. O cuidado não se restringe à consulta ao rótulo dos produtos, mas também precisa evitar a contaminação cruzada por glúten que pode ocorrer durante o armazenamento, manipulação, preparo e até mesmo durante o consumo dos alimentos.

Na suspeição de ter a DC, jamais retire o glúten da dieta sem ao menos ter realizado os exames sorológicos para a detecção da DC. Além da DC, o glúten pode provocar outras reações como a alergia ao glúten mediada por imunoglobulina E e a sensibilidade ao glúten e cabe ao médico realizar o diagnóstico diferencial.

Teste para identificação de doença celíaca